sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A batalha do Coliseu


O sol se erguia a pino, era quase meio dia quando os portões da grande Arena de Valkaria se abriram, o vento trazia uma brisa suave dos campos, o cheiro característico de cereais sendo recolhidos nas fazendas próximas enchia a narina do gladiador. Aquele era um bom dia para morrer.

O céu azul e límpido refletia como os olhos do gladiador, as poucas nuvens eram como as pequenas dúvidas que cruzavam a sua mente, mas não, com certeza tudo daria certo, afinal, aquele era um bom dia para morrer.

E foi assim que ele adentrou a arena para se preparar, nas celas os seus companheiros gladiadores se entreolhavam confiantes, lentamente os passos dos espectadores começaram a rugir sobre suas cabeças, a Arena começava a ter vida, os assentos sendo ocupados, em poucas horas os combates se iniciariam, machados, espadas, flechas e magia, a terra se encheria de sangue e os corações se encheriam de emoção, todos os gladiadores estavam prontos, aquele era um bom dia para morrer.

Mas é claro, nenhum deles queria morrer, isso era apenas algo que diziam a si mesmos para demonstrarem coragem e intimidar uns aos outros, ninguém gostaria de morrer para a diversão de pessoas que se esqueceriam deles até o dia seguinte, eles eram apenas gladiadores, mas seres humanos, pessoas com sentimentos e foi por isso que nenhum deles subiu para a Arena.

Enquanto todos se preparavam para as lutas, espadas eram afiadas, armaduras e placas eram apertadas e conferidas eles adentraram. 2 grupos de heróis, 2 grupos de aventureiros e nesse momento todos os gladiadores tremeram. Uma coisa era enfrentar seus companheiros gladiadores que treinavam diariamente e colocavam suas vidas em risco na Arena, mas aquilo era diferente. 

Quando o Minotauro pisou no grande salão o chão tremeu, sua armadura poderosa e reluzente era mais pesada que um ser humano comum, e mesmo assim ele andava como se estivesse usando apenas roupas leves de baile, suas poderosas pernas e cascos faziam o chão ecoar com cada passada, o enorme machado táurico em suas costas era do tamanho do gladiador, ao seu lado seguia uma jovem de compleição leve e muito bela, tinha um quê de élfico, mas claramente não era uma elfa, emanava um aroma de terra e folhas frescas como se estivessem em uma floresta e não no salão fétido da Arena de Valkaria, e do outro lado seguia um elfo também esguio mas claramente com braços poderosos, seus dedos tinham os calos clássicos de quem treina o arco diariamente, em suas costas um arco incrivelmente detalhado e que provavelmente custava mais do que as posses de todos os 50 gladiadores juntos, sua aljava pendia displicentemente mas o gladiador sabia, em menos de 1 segundo 3 flechas estariam na cabeça de quem tentasse ataca-lo. 

O outro grupo também era intimidador, mas de uma forma um tanto quanto bizarra, ao centro ia um meio-orc, muito incomum na cidade, mais incomum ainda eram suas vestimentas cheia de símbolos arcanos e tribais, mas por baixo dessas vestes claramente ele estava de armadura, um arcano de armadura é quase tão raro quanto um meio-orc, e seu olhar demonstrava a inteligência de ser um conjurador experiente e não um meio-orc bárbaro, ao seu lado seguia alguém tão alto quanto o meio-orc, um humano muito forte e completamente selado em uma armadura de metal, apenas seus olhos eram visíveis por baixo do elmo completamente fechado, suas postura digna e empertigada demonstrava que sua honra era inabalável, sua espada extremamente bem cuidada presa a sua cintura sempre pronta para uma luta justa, e do outro lado do meio-orc seguia uma figura depressiva, de compleição um pouco mais acinzentada que o normal, com olhos tristes e misericordiosos, claramente uma criatura extra planar com vestes humildes e características de um clérigo.

Mesmo sendo apenas um gladiador ele percebeu a aura mágica intensa que emanava de ambos os grupos, o poder deles estava muito acima do que qualquer mero gladiador poderia alcançar, aqueles eram heróis, eram aventureiros capazes dos maiores feitos, nada poderia pará-los, não havia um maldito gladiador naquela Arena inteira capaz de arranhar qualquer um deles, e assim o gladiador caiu de joelhos, ele sabia que se subisse na arena aquele não seria um bom dia para morrer, seria com certeza o dia de sua morte e por isto nenhum gladiador ousou se mover enquanto os dois grupos atravessavam o salão e se dirigiram para a Arena, aquele dia era deles e só eles iriam lutar ali.

A Arena de Valkaria estava lotada, nobres, dignitários, aventureiros, heróis e o povo comum, todos lotavam a arena, os camarotes estavam cheios, as arquibancadas estavam cheias, a excitação reverberava no ar, assim como a poeira se erguia da arena quando as portas se abriram, os dois grupos adentraram, cada qual em seu lado, rapidamente ambos os grupo fizeram suas preces e teceram suas magias, eles estavam prontos, aquele era o dia deles, aquela era a grande final do campeonato e Valkaria e apenas um lado seria o vencedor. 

O minotauro estava inquieto, seu sangue guerreiro já fervia enquanto seus companheiros se preparavam para o combate, seu machado pronto e em riste, seus músculos tensos e prontos para disparar em direção ao oponente, a druida fez suas preces e concedeu poderes divinos, do chão brotaram gavinhas que formaram uma elegante armadura ao seu redor, o arqueiro se posicionou para disparar atrás de cobertura e conseguir o melhor ângulo para infligir o maior dano possível. Do outro lado o meio-orc teceu suas magias arcanas, e preparou suas armas, o cavaleiro fez suas reverências e se preparou para a batalha, o clérigo orou e pediu a proteção a seu deus, e sem nenhum alarde a luta estava iniciada.

O minotauro disparou ao centro da Arena, o cavaleiro disparou em sua direção para encontra-lo em armas, o meio-orc partiu em volta dos dois para tentar alcançar os flancos, o arqueiro correu para atrás das estátuas da arena e disparou suas flechas tentando acabar a luta de forma rápida e rasteira, mas o meio orc havia lançado uma parede de vento que o atrapalhou, a druida invocou uma tempestade de relâmpagos sobre a arena que começou a atingir os oponentes, o clérigos abriu asas de couro enormes e alçou voo para se manter em segurança, nesses meros segundos a Arena tremeu com o clamor ensurdecedor da torcida.

A audiência foi ao êxtase com a ferocidade dos lutadores e seu ímpeto de sangue, as pessoas gritavam, mulheres desmaiaram, jovens imitavam os golpes, no centro deste turbilhão de emoções estava o foco absoluto, a rigidez marcial do Minotauro que travava a mais intensa batalha que a Arena já vira até então, golpes pesados da enorme criatura batiam contra a armadura do cavaleiro, a espada ágil e precisa do cavaleiro não conseguia encontrar espaço na armadura pesadíssima do Minotauro, as armas se chocavam com força esmagadora, qualquer pessoa comum não teria resistido a nenhum golpe, e mesmo assim a luta continuava, faíscas voando para todo lado enquanto aço encontrava aço. 

Lentamente o suor e o sangue começaram a se misturar, mesmo os golpes não sendo limpos e definitivos ambos começaram a se ferir, cortes surgiam pelas articulações da armadura, mas a luta continua com os guerreiros envoltos em aço no centro da Arena.

Enquanto isso o meio-orc avançava lateralmente em direção a druida e o arqueiro se esgueirava em furtividade pela parte de baixo entre as estátuas, o clérigo sulfure tentava avançar e curar o cavaleiro ao mesmo tempo enquanto tomava os relâmpagos da druida, vendo que era fútil continuar a curar antes de derrubar a druida ele partiu pra cima dela com um soco de arsenal poderoso mas que não foi suficiente para dispersar a concentração da Druida, que permanecia firma com sua chuva de relâmpagos pela arena, enquanto isso o arqueiro conseguiu dar a volta completa na arena e começou a atacar os adversários pelas costas de maneira muito efetiva, não havendo outra maneira de se proteger o clérigo usou seu poder sobrenatural e invocou uma enorme área de escuridão que cobriu 1/3 da Arena, dentro dela se encontravam o meio-orc, a druida e o clérigo, depois de alguns segundos de indecisão o meio-orc achou um meio de sair da área de escuridão e foi se esgueirando e se protegendo para tentar acertar o arqueiro.

Dentro da escuridão a druida finalmente parou de soltar relâmpagos e passou a tentar localizar o clérigo, no meio dessa confusão toda o arqueiro resolveu atirar dentro da área de escuridão, a primeira flecha não encontrou alvo, mas a segunda flecha foi certeira, um tiro direto  no peito de sua companheira druida que a atravessou e a levou a nocaute imediatamente, enquanto isso o clérigo saiu da escuridão e foi avistado pelo arqueiro que imediatamente o derrubou, equilibrando novamente a luta em dois contra dois, mas não percebendo que o meio-orc se aproximara demais e partiu para cima dele com magias e ataques, foi uma luta de proximidade excepcional onde o arqueiro se reposicionava atirando contra o meio-orc e o meio-orc o caçava tentando derrubá-los, após três trocas guerreiro arcano levou a melhor e derrubou finalmente o arqueiro, mas quando se virou, exausto e já praticamente sem magia restantes viu que o cavaleiro estava se defendendo desesperadamente e quase desmaiando contra o enorme minotauro, e foi nesta hora que aconteceu a luta que marcou como fogo na mente dos gladiadores, o poderoso minotauro enfrentou dois oponentes duros, sangue se espalhou pela areia fazendo um mosaico marrom e vermelho, as lâminas giravam, gritavam e trombavam com uma intensidade jamais vista, o cavaleiro com o apoio de seu companheiro finalmente começou a reagir, mas com um golpe que alguns podem dizer que foi sorte, outros que foi o mérito de anos de treinamento rígido e militar o minotauro girou em seu eixo e desferiu um golpe com o machado com força estupenda abrindo a couraça do cavaleiro no meio do peito e o derrubando, provavelmente com algumas costelas quebradas ou até mesmo morto.

Apenas dois guerreiros se encontravam em pé nesse momento, a arena ficou silenciosa com a tensão, as pessoas prendiam sua respiração, os nobres sempre desdenhosos se seguravam pelas braços das poltronas como se estivessem caindo de um penhasco, os golpes recomeçaram, um golpe, dois golpes, três golpes, era difícil contar, ambos os lutadores exibiam uma compleição cansada, mas aparentemente a luta do meio-orc foi mais dura, favorecendo uma das pernas ele fechava o semblante com cada ataque recebido, deixando transparecer uma dor fenomenal, o minotauro parecia incansável, mas olhos atentos notavam que sua armadura pingava sangue, ele também estava muito ferido, e a luta terminou tão rápido como começou, como se fosse uma jogada de dados nimb o minotauro ergueu seu machado contra o enfraquecido e quase desmaiado guerreiro mágico, mas seu cansaço o tomou de uma só vez, o arco foi grande demais, a força foi descontrolada e o golpe passou por sobre a cabeça do meio-orc com força o bastante para arrancá-la, mas encontrando apenas o ar, o minotauro de desequilibrou, terminando seu movimento com um dos joelho dobrados de forma estranha e baixa, era aquela a oportunidade que os deuses oferecem e o maior campeão que a Arena de Valkaria a agarrou, com um movimento rápido e preciso o meio-orc aproveitou a força do movimento desengonçado do minotauro e desferiu um golpe incrível contra a cabeça de seu adversário, o elmo explodiu em 3 partes, sua arma penetrou fundo na carne, o golpe com certeza seria fatal não fosse a qualidade da armadura que o minotauro vestia, mas o ferimento foi profundo demais e ele tombou.

A plateia começou a pular e gritar comemorando o nascimento de uma lenda, os gritos eram ensurdecedores e o meio-orc já não se aguentava mais em pé, caindo de joelhos ele ergueu sua arma e soltou um urro de triunfo e desde então os gladiadores contam sua história, contam o dia em que heróis poderosíssimo vieram à Arena e mostraram a todos como era a luta daqueles que caçam monstros e vilões terríveis com um sorriso no rosto, uma luta feita por aqueles que realmente acreditam que aquele é um bom dia para morrer, e não tem medo desse ser, realmente, o dia que morrerão.
x

2 comentários:

  1. Luta memorável. Mesmo podendo a batalha lembro da adrenalina pulsando... Foram bons momentos de fúria e jogadas de dados razoáveis! Rsrs

    ResponderExcluir
  2. Ainda lembro que o minotauro atacava sem parar, e toda rodada eu achava que ia perder a batalha, no fim a persistência valeu a pena, e uma falha crítica seguida de um acerto crítico virou o jogo.

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário. O bando agradece!