Uma figura então escondida começa a surgir de trás das sombras, avançando através de uma estátua de bronze esculpida sobre um totem de madeira, ele saca sua besta de repetição toda negra que garante ainda mais discrição ao furtivo invasor. Ao olhar para os lados mais três invasores surgem também furtivos, apontando suas armas para o enorme minotauro sentado em uma confortável poltrona esculpida em forma de chifres retorcidos iguais aos mesmos que ostenta em sua cabeça. Artorius Maximus parece não se assustar com os invasores e não faz nenhum movimento de defesa contra o avanço destes.
O ambiente parece inabalável como seu proprietário, mesmo diante de quatro ninjas muito bem preparados, pode-se ouvir o tilintar de copos, os berros e risadas dos ambientes ao lado, o movimento de clientes, garçonetes, a música alegre de bardos posicionados em um pequeno palco ao lado do bar central de Roma. Mesmo assim, para evitar que algo se interpusesse ao ataque, um dos ninjas lança uma bomba de fumaça como uma névoa obscurecente tapando toda a visão para a sala reservado de Artorius, e enquanto isso os outros três ninjas começam a disparar suas besta freneticamente. O primeiro tiro é aparado com as próprias mãos pelo minotauro que, naquele momento vestia apenas uma toga de tecido branco contrastando com seus pêlos castanho escuros, belamente escovados como se tivesse acabado de sair de um relaxante banho.
Os ninjas foram subestimados, pois enquanto aparara uma das flechas com a mão, as outras tiveram seu encontro certeiro em seu ombro, tórax e antebraço. Os tiros foram potentes e fizeram com que o minotauro se recurvasse para trás com o impacto e logo na sequência como o movimento de um chicote se debruçou sobre os seus joelhos sentindo a dor dos ferimentos.
Enquanto o último ninja fazia o movimento para mirar sua besta antes de liberar o tiro, passos rápidos e barulhentos como se fosse um raio atravessaram a névoa causada por eles e mesmo sem enxergar, outro enorme minotauro apareceu e se posicionou frente à Artorius após um perfeito movimento de rolamento que foi finalizado de joelhos com seu escudo de combate aparando o disparo daquele ninja. O minotauro tão grande quanto Artorius, mas de pelagem mais clara e um pouco mais magro, de chifres pontudos e virados para os céus, vestindo uma armadura de centurião prateada com desenhos dourados e segurando na sua outra mão uma lança de aproximadamente dois metros de comprimento se levantou e disse:
__ Quem tem parceiro têm Parcius!
Roma se tornou rapidamente uma das tabernas mais conhecidas de Arton. Sua ascensão em Valkaria dentre tantos estabelecimentos famosos e luxuosos parecia improvável mas a mística que cresceu com ela a tornou diferente das demais. Com quatro andares e tomando praticamente o seu quarteirão inteiro, este era um prédio muito bem construído. A região da cidade onde se localizava era de certa forma amistosa, próxima a uma das praças das redondezas do centro da cidade. Era possível se ver seus dois pilares centrais na entrada mesmo de longe, na verdade colunas romanas enormes e esculpidas em um mármore branco sustentando uma flâmula vermelha com seu nome, ROMA, esticada sobre a escultura de dois chifres dourados retorcidos como os de seu dono.
Todos moradores que passavam pela frente da taverna sabiam que ali era um lugar especial, cercado de criaturas diferentes e pitorescas, apadrinhadas por um minotauro também pouco comum por alí. As histórias do seu dia a dia se tornavam lendas urbanas rapidamente, como tudo o que envolvia seu nome. Roma era quase uma pessoa viva, uma entidade.
__ Se você ganhar uns tibares extras e quiser gastá-los bem, vá à Roma, não exite!
Logo acima das colunas romanas, algumas janelas amparadas nas laterais do prédio estavam abertas e se tornaram o acesso de vários invasores que se moviam como sombras. Com muito cuidado, os pés dos ninjas equipados com Ashikos para escalada adentraram o ambiente que estava muito bem iluminado. Era possível ouvir o som de pessoas se movimentando e também de animais, o que acabou os confundindo. Também era possível sentir o cheiro de lavanda e ervas refrescantes vindos junto com sons de água corrente que iam e viam.
O treinamento dos ninjas era severo, e eles não se deixaram levar pela curiosidade, seguiram avançando furtivamente através da sala e corredores, mas quando se aproximavam das escadas começaram a ouvir passos muito pesados subindo. Rapidamente eles se afastaram e se esconderam em uma sala próxima, ficando preparados para reagir a qualquer situação de ameaça que pudesse surgir.
Mas o que puderam espiar através das frestas de uma porta fez com que seus treinamentos fossem esquecidos e seus músculos ficassem paralisados. Uma mulher enorme, muito gorda, vestida com uma roupa feita de tule de cor levemente amarelada e muito transparente, deixando seus seios a mostra, caídos e envoltos em colares de pérolas que os contornavam como um suporte. Seu corpo era cheio de curvas que caiam e recaiam umas sobre as outras, seu cabelo preso com uma tiara de brilhantes era vermelho e azul e parecia que ainda estava molhado, suas pernas eram tão grossas que não se podia distinguir onde era seu joelho e seu tornozelo. Eram necessários uns tres homens adultos para abraçar aquela mulher. Seu nome era Fhofuxa, chefe do Harém de Artorius Máximus.
Os ninjas paralisados com aquela aparição não conseguiram reagir e viram ela entrar em uma outra sala de onde vinha o som de água corrente e o cheiro de lavanda e ervas, segundo depois, viram ela sair com uma centaura toda nua, exibindo seu dorso humano muito belo, com seios empinados e rosados, além de braços fortes e compridos, um cabelo loiro preso com tranças adornadas com pedras de cor verde. Sua parte de baixo era branca, de pelo escovado, um tronco equino curto e musculoso, com pernas fortes e torneadas, estava com sua cauda levantada expondo sua feminilidade equina enquanto andava, também espalhando a agradável fragrância de quem acabará de tomar um banho. Continuaram seu caminho até as escadas para o terceiro andar subindo enquanto conversavam algo sobre sua preparação para uma noite especial com Artorius. Passo a passo, degrau a degrau elas subiram e os ninjas não conseguiram reagir.
Nos dias de maior movimento Shynela quase não conseguia atender todos os visitantes. Ela era uma meio orc muito forte e bonita, tinha cabelos verdes e muito compridos, usava uma vestimenta de couro muito apertada que demonstrava estar em plena forma atlética. Ela era a atendente e recepcionista da taberna, algo incomum na demais, e além de orientar os clientes de acordo com seus interesses, também afastava bêbados, pobretões e arruaceiros.
Num desses dias, um domingo chuvoso onde ninguém queria ficar na rua, entravam clientes em fila. Uns desejando apenas se alimentar e beber, eram orientados para a ala leste, onde ficava uma área que podemos chamar de restaurante. Cheia de mesas coletivas, redondas e até individuais para clientes mais abastados. Haviam lá serviçais bem vestidos mas simplórios que apenas atendiam os pedidos sem conversar com os clientes.
Aqueles que se interessavam por jogos eram levados para o local nos fundos de Roma, atravessando por baixo da escada central que levavam aos quartos dos andares superiores e da estalagem. Lá existiam mesas de cartas, dados, aposta diversas, disputa de queda de braço e até uma feiticeira que dizia descobrir o futuro de qualquer um por alguns tibares de ouro.
Sem dúvida o ambiente mais frequentado e quase que diariamente cheio era o bordel e o bar. Suas garçonetes eram mulheres do harém de Artorius, das mais variadas raças. Humanas, orcs, elfas e até uma inimaginável anã, coisa que muitos forasteiros nunca tinham visto, chegavam a cruzar distâncias enormes só para conhecê-la. Neste espaço sempre muito barulhento, tocava frequentemente um grupo de bardos que acabaram sendo responsáveis por uma parte da fama de Roma, devido às suas músicas sempre muito rápidas que contavam de maneira original as histórias que ali aconteciam, chamavam-se Os Bar Dhos. Barris e mais barris de bebida eram empilhados por ali, muitas vezes disputavam lugar com os clientes de tão grande era a rotatividade e fluxo no local.
Também haviam dois locais reservados na ala oeste, um para negócios onde vários contratantes ofereciam aventuras e recompensa em um ambiente protegido e controlado por guardas de Artorius e supervisionado por seu braço direto Normaus Parcius, Minotauro irmão que fora treinado junto dele nas artes marciais de Yuden com escudo e lança. E o outro lugar dedicado a magos e estudiosos divinos. Este era praticamente uma biblioteca com mesas aveludadas e iluminadas para leitura além de possuir um bar exclusivo lá dentro que além de bebidas vendia também ervas e poções especiais.
Por fim, existia a sala de Artorius, um recuo lateral do bar central, muito decorado com o estandarte de Roma e esculturas diversas, onde existia além do trono em forma de chifre uma coleção de cabeças de feras, animais exóticos e inimigos mortos por Artorius. Nos andares superiores existiam a estalagem, no próximo o harém de Artorius e no último andar eram seus aposentos, onde ele também costumava receber seus amigos particulares. Lá existia uma linda mesa que ele chamava de mesa da guerra, onde o mapa de Arton era esculpido com riquezas de detalhes.
Neste domingo chuvoso, um jovem príncipe de uma região distante nas montanhas resolveu conhecer a famosa taberna Roma. Shynela o recebeu cordialmente, pelo menos o máximo de cordialidade possível para uma meio orc, e o dirigiu para a sala reservada de Artorius para apresentá-lo.
Seu olhar de desprezo como nobre não agradou Artorius que depois de uma rápida conversa, o levou até o bordel para que se divertisse como desejava. O jovem príncipe estava acompanhado de amigos da sua corte, e depois de muito beberem acabaram maltratando uma das mulheres do harém de Artorius. Isso era uma das únicas coisas proibidas lá, ninguém deveria bater ou maltratar nenhuma mulher. Os seguranças de Roma foram imediatamente até lá para repreenderem o jovem príncipe mas ficaram receosos em lutar com alguém da realeza.
O jovem príncipe, chamado Otaku, então gargalhou dos guardas e começou a maltratar e xingar todos como um verdadeiro nobre arrogante e inexperiente. Ao ouvir a bagunça, o próprio Artorius saiu de sua sala e foi até os jovens nobres. Sem dizer uma palavra deu um golpe em cada amigo do jovem príncipe e os desacordou, segurou e ergueu o príncipe Otaku e seus amigos e os arrastou até fora das dependências de Roma jogando-os na lama sob uma forte chuva. O príncipe se levantou e jurou vingança por aquela situação constrangedora, mas Artorius não se importou com as palavras de ameaça do jovem príncipe e se virou para entrar na taberna.
__ Dizem que o Príncipe Otaku foi afastado temporariamente de seu reino por seu pai, por temer suas ações incontroláveis.
Todo bom aventureiro sabe que o melhor lugar para se conseguir boas missões é em uma taberna, e Roma talvez fosse uma das melhores para isso. Sua área de negócios era sempre cheia de grupos de novos guerreiros sedentos por aventuras e era lá que os contratantes ofereciam seus serviços aos interessados. Normaus era encarregado de cobrar uma taxa dos contratantes além de fornecer a proteção para a negociação, que invariavelmente acabava em brigas. Foi assim que um grupo de aventureiros descobriu da pior maneira as regras de Roma.
Eles tentaram enganar o contratante que queria uma certa pedra com poderes místicos que ficava sob a proteção de trolls das montanhas. Eles conseguiram uma réplica e tentaram passar ela ao velho arcano que tinha lhes contratado. Mas ele era muito astuto e lançou rapidamente uma magia de identificação e desmascarou os trapaceiros. Com intenção de amedrontar o velho arcano os aventureiros partiram para cima dele usando do seu maior número e de violência, melhores argumentos para resolver uma discussão.
Mas Roma dá abrigo para seus negócios e cobra compromisso como de uma esposa, não queira traí-la. Normaus rapidamente chegou à confusão e junto de dois guardas resolveu o conflito. Estocadas das lanças afastaram os guerreiros do velho arcano contratante e frente ao amedrontador minotauro os guerreiros se renderam. A cobrança de Roma para esses casos é o valor do item contratado ou itens de mesmo valor. Como os guerreiros não tinha tibares suficientes, Normaus tomou os poucos itens mágicos que eles tinham como forma de pagamento ao contratante e antes de expulsá-los da taberna fez uma marca no antebraço do líder deles com sua lança aquecida na lareira. Localmente esse sinal já era conhecido em trapaceiros e eles teriam que carregar aquela marca ou pagar um bom curandeiro para retira-lá.
Após as duas estranhas mulheres do harém de Artorius subirem as escadas os ninjas seguiram seu caminho cuidadosamente pelas escadas. A iluminação de Roma era meio amarelada devido às tochas protegidas por vitrais estilizados, assim os ninjas se utilizaram de uma camuflagem mágica para se movimentarem pelas sombras do ambiente, mas na entrada da sala reservada de Artorius sempre ficava de plantão um guarda observando tudo que acontece em Roma. A passagem estava impedida, e mesmo que magicamente furtivos, os ninjas não conseguiam avançar por alí. Dois deles resolveram então sair das sombras bem em frente ao guarda e antes que ele pudesse agir ou avisar sobre os invasores, o terceiro ninja apareceu ao seu lado e com uma estocada fatal em seu pescoço o matou silenciosamente.
… Em uma mesa afastada do bar uma figura desconhecida com seu rosto coberto por um capuz e manto se utilizava de estranhas magias para conseguir retirar um antigo pergaminho de uma mesa de cavaleiros consagrados na mesa ao lado, uma das garçonetes percebeu e o estranho então soltou uma magia de silêncio permanente nela fazendo um gesto com o dedo frente aos lábios.
… Do outro lado da praça o príncipe Otaku aguardava sobre seu cavalo, escoltado por outros samurais e alguns soldados a pé olhando para Roma enquanto a noite se tornava cada vez mais silenciosa e repleta de sombras.
De volta à sala reservada de Artorius uma luta marcial típica de Yuden se inicia com as ações totalmente sincronizadas da dupla, se defendendo dos ataques ninjas e atacando e matando um a um os invasores deixando um rastro de sangue e corpos. Ao se moverem pelos flancos os ninjas se expunham a um ataque de oportunidade poderoso de Normaus, ao atacarem Artorius frontalmente tinham seus ataques aparados com facilidade por seus ataques naturais com chifres. A formação defensiva dos minotauros era intransponível e mesmo com apenas um escudo e uma arma para dois touros, tudo não durou mais do que um minuto. A ameaça de ninjas furtivos aparentou ser fulminante, mas a reação desencadeada pelos parceiros minotauros devolveu à realidade aquela aparente situação de perigo.
Assim que a luta acabou, alguns empregados entraram correndo na sala e começaram a limpar o sangue e retirar os corpos. Fhofuxa também apareceu, retirou as flechas ainda presas ao corpo de Artorius e então trouxe uma enorme caneca de cerveja vermelha perguntando:
__ “Por que esta tão calmo assim hoje?”
Roma, o lar do minotauro, se tornou um mundo repleto de diversão, violência e muitas histórias.
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